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a ciência dos bebés, dos pais e de tudo pelo meio
Sempre pensei que o instinto materno era uma vozinha dentro de nós que falava e nos aconselhava em todos os dilemas da maternidade.
Quando o meu filho nasceu, fiquei à espera que essa voz começasse a opinar… mas nada.
Nada nesse dia, nem no seguinte, nem depois. Nem um pio. Um silêncio gigantesco dentro de mim que parecia ainda maior com o aumento do choro do meu recém-nascido sem instruções.
Com o passar dos dias eu continuava a alimentar a esperança que a todo o momento a voz do instinto aparecesse, esbaforida e meio em tom de desculpa “Ah e tal, o trânsito estava que não se pode, mas já cá estou, bora lá arregaçar as mangas e vamos a isto!”
Mas quem arregaçava todos os dias as mangas era eu, sozinha, sem guia e sem rede, e a minha insegurança aumentava de dia para dia. Os únicos conselhos vinham de fora, nunca de dentro. Cada vez me sentia mais perdida e a duvidar da minha capacidade para ser mãe. Recorri aos meus sábios conselheiros que sempre me ajudaram quando estava perdida: os livros.
Li. Li muito. Enquanto o meu filho dormia nos primeiros meses eu ou estava a dormir ou a ler. Precisava de sentir a segurança nem que fosse através da segurança dos outros. Porque toda a gente sabe que para escrever um livro e editá-lo é preciso ser-se muito seguro de si e do que se diz! (sarcasmo) (Um dia escrevo um post sobre isto)
E foi efectivamente um livro que veio dar a volta tudo isto.
Vocês estão a ler e a pensar “Ah, a tal voz finalmente falou”, mas não. O que esse livro tinha de extraordinário era uma visão completamente diferente daquelas “instruções” habituais nos livros de educação infantil “isto está certo” e “isto deve ser assim”. O partido tomado pelo autor era a cada momento fundamentado cientificamente, o que conquistou a bióloga em mim, mas era também uma declaração de amor. Ao folhear esse livro no meu telemóvel noite dentro, com olhos privados de sono a decifrar a letra minúscula, tive a minha revelação.
Afinal, a voz que eu esperava não vinha porque não existia, porque o instinto materno não é uma voz. É uma emoção.
Era aquilo que sentia ao fazer determinada coisa com o meu filho. Determinadas acções dão-me alegria. Outras põem-me em lágrimas. E isto é que é o instinto materno. É emoção perante a acção. O amor é a bússola, a alegria é o ponteiro. Mais nada. Voz nenhuma. Emoção pura.
Descobrir esta bússola poderosíssima dentro de mim teve um impacto tremendo na minha relação com o meu bebé, com as outras mães e comigo. A minha segurança regressou em força. Eu agora sabia que o que fizesse com amor estava certo e que não devia agir com base no medo. A alegria passou a ser a palavra de ordem. Ser mãe era o maior prazer imaginável.
Mais tarde conto-vos mais sobre esse livro que me abriu o coração. Acho que merece um post só para ele.
Hoje digo-vos apenas que ouvir o coração nem sempre é fácil. Para uma pessoa mental como eu então, é tudo muito novo e complicado de gerir. Mas garanto-vos que é simples. E sabe mesmo muito bem.
Gostamos de pensar que somos superiores ao resto do mundo animal mas a verdade é que somos apenas mais uma espécie. Não somos uma categoria especial e temos muito mais em comum com os mamíferos do que queremos admitir.
E os nossos bebés, enquanto nossas crias, são ainda mais parecidos com os bebés mamíferos de todo o mundo: são irrequietos, ruidosos, atentos, inteligentes, mamões e comilões, brincalhões, curiosos, amorosos, e sedentos de atenção. Nascem completamente indefesos, a precisar de protecção a toda a hora, carentes e chorões. Têm feições que nos fazem dizer "oooooh, que lindo!". Têm um cheiro que desperta respostas hormonais potentes nas mães e activa instintos com milhões de anos.
Os bebés humanos, precisamente porque ainda não cresceram e ainda não interagiram o suficiente com o ambiente, são animais puramente instintivos que gradualmente vão integrando a civilização e cultura em que nasceram.
Compreender este facto ajuda-nos a perceber os comportamentos que muitas vezes nos dão cabo da cabeça. Respeitar este facto ajuda-nos a ultrapassar as nossas preocupações.
Aqui ficam 10 bebés animais que são como os nossos bebés humanos e 10 comportamentos comuns entre mamíferos.
1. Mamam a toda a hora. Literalmente, a toda a hora.
2. Precisam de protecção 24/7
3. Querem (e precisam) de colo
4. São seres inteligentes com uma curiosidade insaciável
5. Comunicam com o sorriso
6. Adoram beijos
7. Vivem para brincar (e aprendem enquanto brincam)
8. Aprendem observando e partilhando experiências com os pais
9. São carentes e precisam de muito mimo
10. Dormem com os pais para protecção, calor... e mimo ;)
Muita gente diz que ser mãe não é um mar de rosas. Mas se virmos bem, é isso mesmo que é. Acho que é uma metáfora perfeita. Afinal só mesmo na nossa cabeça é que nadar num mar de rosas pode parecer uma ideia bonita e confortável. Pensem lá bem: as pétalas até podem ser suaves e perfumadas, mas os espinhos devem doer comó catano!
E ser mãe dói. Dói muito. Não há anestesia epidural nenhuma que nos proteja dessa dor.
É a dor de amamentar, a dor da privação de sono, a dor de deixar os nossos bebés com outros (muitas vezes estranhos) quando ainda são tão pequeninos. É a dor de os ver com dores, de os ouvir chorar, de os sentir a soluçar. É a dor de não saber o que fazer. É a dor da culpa, de que estamos a fazer tudo errado. É a dor da falta de apoio. A dor da solidão. A dor de os ver crescer e ter saudades do cheirinho a bebé. É a dor de termos de despedir-nos de uma parte de nós, geralmente mais sã e mais calma, mais confiante e mais paciente, que éramos antes de sermos mães. É a dor de saber que cada dia é único e não volta mais. E que o tempo passa a correr.
Bolas, ser mãe não é fácil. É mesmo um mar de rosas. Lindo à distância mas é só dar um mergulho para perceber o que dói. Mas o mais estranho é que mesmo depois de passarmos por elas, e sabermos por experiência tudo o que implica, e o quanto temos de dar e de desistir de nós para criar um outro ser humano, uma grande parte de nós está preparada para fazê-lo novamente. E mesmo as mães que ficam apenas com o seu primeiro bebé, não trocavam os seus momentos de cumplicidade e amor sem limites por nada deste mundo.
Esse filho a quem pediste desculpa quando gritaste com ele porque afinal estavas cansada e a ter um mau dia, vai ser o primeiro a pedir desculpa quando for injusto com outros no futuro e o primeiro a perdoar porque sabe que todos erramos e somos humanos.
Esse filho a quem agradeceste de cada vez que apanhou os brinquedos ou tirou os pratos da mesa (mesmo quando essa tarefa é dele), vai saber apreciar um dia o esforço e trabalho dos outros.
Esse filho a quem sempre disseste “bom dia, meu amor” a sorrir de manhã mesmo que só te apetecesse dizer adeus ou “deixa-me tomar o café em paz e já falamos”, vai saber como um sorriso e umas palavras doces são tão importantes para começar o dia de qualquer um.
Esse filho que sempre te viu dar lugar aos idosos e grávidas e que nunca te ouviu dizer mal dos avós, vai ganhar respeito aos idosos e grávidas e não vai precisar que lei nenhuma lhe diga aquilo que os pais lhe mostraram a vida toda que é o correcto a fazer.
Esse filho a quem abraçaste e disseste “amo-te mesmo quando fazes asneira, estou aqui e vamos resolver isto juntos” vai saber que não precisa de ser perfeito para ser digno de amor.
Esse filho a quem sempre elogiaste o trabalho, a dedicação, o esforço e a paixão, vai crescer sem procurar validação exterior porque sabe que um trabalho bem feito é a sua própria recompensa.
Esse filho a quem disseste “eu acredito em ti e eu sei que consegues” quando estava frustrado por não conseguir fazer uma tarefa mas a quem deste uma mãozinha na mesma assim que ele se propôs a fazer o trabalho, vai ser aquele adulto confiante que acredita em si mas que dará sempre a mão aos outros quando vir que precisam.
E assim o teu filho educará os teus netos. Não porque é a melhor maneira mas porque é assim que ele é. Porque tudo o que aprendeu veio do exemplo vivido e não das palavras ralhadas e das obrigações. Tudo o que ele é, é uma extensão da tua vida e de como a viveste, gostes disso ou não.
Parem de tratar as crianças como uma espécie à parte. O que não é aceitável fazer a um adulto (bater, ralhar, responder torto, castigar) muito menos é aceitável a quem está ainda a tentar perceber o mundo. Tratem as crianças como seres humanos dignos de amor e respeito e eles aprenderão pelo vosso exemplo a empatia, a compaixão e o respeito pela dignidade humana.
Desculpem o quase plágio mas eu prefiro dar o exemplo do que acho que está certo do que estar sempre a recriminar porque isso só dá merda. É que a educação dá-se pelo exemplo e o amor gera amor. Quando tudo o que temos para eles são palavras ríspidas, amargas e cheias de acusações, eles aprendem a usar essas palavras e a destilar esse ódio que andamos a criticar nos outros.
Por isso, em vez de criticares o teu filho, mostrar-lhe todos os dias o que queres que ele seja. Porque ele é uma esponja, absorve tudo o que fazes, dizes e até pensas. Se queres mudar o mundo não comeces pela tua casa, começa por ti.
Abro a porta de casa, filho mais velho a tagarelar ao meu lado, filho bebé ao colo a querer participar na conversa, todos sujos mas felizes e a sorrir. A casa está caótica, mas entro de coração cheio. As últimas duas horas foram passadas na rua, a brincar. Primeiro só nós os 3, depois juntou-se um vizinho, depois outros. E conforme iam chegando a casa, mais miúdos que vieram brincar para a rua. Éramos 4 pais e 8 crianças quando tivemos de trazer o circo para dentro de casa. Estava mesmo a ficar tarde (e frio, brrr, o outono já chegou mesmo!) e horas de dar início aos rituais de fim de dia.
Depois de tudo tratado, crianças na caminha, encontro este anúncio de uma conhecida marca de detergente da roupa. Pronto, é o Skip. Faço publicidade porque a meu ver o merecem pela mensagem magnífica. É bom sujar-se já era o lema deles e eu já me ria com os anúncios que me faziam lembrar os meus dois traquinas. Mas agora tomaram um rumo mais dark. Às vezes é preciso, para que se dê a devida atenção.
O novo lema é "Libertem as Crianças" e o vídeo que partilho hoje com vocês passa-se numa prisão. Presenciamos vários testemunhos de pessoas que perderam a sua liberdade e da importância que têm nas suas vidas as 2 horas em que têm direito de ir para o exterior. Falam-nos de como seria uma tortura se tivessem de perder parte delas. E vemos as suas reacções de espanto e tristeza ao serem informados de que há pessoas que passam ainda menos tempo na rua.
Quem? Os olhares dizem "quem no seu perfeito juízo e em liberdade passa menos tempo lá fora?"
Afinal, pensem bem, quanto tempo passam os nosso filhos a brincar livremente na rua?
Desafio-vos a ver o vídeo. Desafio-vos a reflectir sobre a infância que estamos a dar às nossas crianças. E desafio-vos a cumprirem o desejo de quem vive atrás das grades "Queria poder ir hoje com o meu filho ao parque". Eles perderam a sua liberdade. E tu? Qual é a tua desculpa para não irem brincar hoje?
A minha mãe era a minha melhor amiga. Era a minha confidente, a minha guia, a minha primeira professora e mentora. Cuidou de mim em exclusivo na minha infância. Cuidou sempre de mim toda a minha vida... até partir. Eu não soube durante muito tempo o que fazer desse vazio. Eu sempre soube que queria ser mãe um dia, acho que muito pelo exemplo dela. E nessa imagem sempre a imaginei ao meu lado, avó babada, a ajudar-me nos primeiros tempos difíceis, pelas noites em claro adentro e os dias de cólicas afora.
O destino não quis que assim fosse. A imagem tão linda que tinha na minha cabeça para mim e os meus filhos foi destruída e perante esse vazio e impossibilidade de ter a ajuda dela nesta tamanha tarefa, perdi a coragem. Não conseguia imaginar-me a ser mãe sem ela ao meu lado. Não conseguia conceber ser mãe e ela não ser avó. Depois de ter sido abençõada com a melhor Mãe do mundo, com M maiúsculo, não me sentia capaz de preencher esse difícil papel, nem com "m" minúsculo. Isso de ser mãe era para pessoas extraordinárias, como a minha.
Mas o meu pequeno milagre sabia melhor do que eu. E dois anos depois de enterrar a minha mãe estava grávida e a poucos dias de conhecer aquele que mudou o meu mundo.
Mãe, não sei se alguma vez vou ser uma mãe tão maravilhosa como tu. É um papel difícil de preencher, principalmente depois do legado que me deixaste. Mas olha que no que toca aos filhos, não desfazendo dos teus, foi a mim que saíu a sorte grande ;)